Quem ganha as eleições?
Muitos
consideram as eleições como expressão da verdadeira vontade popular,
manifestada pela maioria. Chegam mesmo a dizer: “vox populi, vox Dei”, “a voz
do povo é a voz de Deus”. Mas será mesmo assim? Será que realmente ganham os
melhores os mais preparados para o cargo? Ganha a eleição quem tem mais
sabedoria, prudência, competência, honestidade, ou ganha quem grita mais, quem
foi melhor apresentado pelos marqueteiros e formadores de opinião, criadores de
sonhos no imaginário popular?! Sem considerar muitos outros fatores, devemos
dizer que nem sempre ganha quem merece.
É a grande discussão sociológica e
filosófica sobre a verdadeira representatividade? Já foi dito com propriedade:
“sufrágio universal, mentira universal!”. Sim, porque muitas vezes o povo vota
influenciado pela propaganda, pelos formadores de opinião, sem muita reflexão e
conhecimento pleno do que significa o seu voto.
Jesus
foi condenado à morte, a pedido da maioria da população. Na eleição proposta
pelo governador romano, Pôncio Pilatos, entre Barrabás e Jesus, este último foi
fragorosamente derrotado, porque o povo sufragou Barrabás, revolucionário e
homicida, condenando o inocente à morte.
Mas, por que Jesus perdeu essa eleição?
A morte de Jesus foi realmente o desejo da maioria do povo? Jesus, tão querido
por todos, cercado pelas multidões, aclamado pela população ao entrar em
Jerusalém, foi condenado por esse mesmo povo, cinco dias depois?! Ou será que
esse povo foi manobrado por uma minoria ruim, mas muito hábil? O Evangelho diz
que os chefes, os manipuladores de opinião, influenciaram o povo a que pedisse
Barrabás e condenasse Jesus. Ele mesmo, ao morrer na cruz, pediu por eles
perdão ao Pai, dizendo que eles não sabiam o que faziam. Já não eram mais povo;
tinham se tornado massa. O povo pensa. A massa é que é manobrada. Nem sempre
podemos dizer que a eleição seja expressão da vontade do povo. Talvez seja só
da massa.
Quando
aconteceu a Ressurreição de Jesus, fato incontestável, diz o Evangelho de São
Mateus (28, 11-15), que os sumos sacerdotes judeus, com os anciãos,
“deliberaram dar bastante dinheiro aos soldados; e instruíram-nos: ‘Contai o
seguinte: ‘Durante a noite vieram os discípulos dele e o roubaram, enquanto
estávamos dormindo’. E se isso chegar aos ouvidos do governador, nós o
tranquilizaremos, para que não vos castigue”. Eles aceitaram o dinheiro e
fizeram como lhes fora instruído. E essa versão ficou divulgada entre os
judeus, até o presente dia”. Vê-se que o suborno e a mentira são de longa data.
Por analogia, quando da proposta da escolha entre Jesus e Barrabás, ao lerem os
intérpretes a passagem “os sumos sacerdotes e os anciãos, porém, instigaram as
multidões para que pedissem Barrabás e fizessem Jesus morrer” (Mt 27, 20),
concluem que os inimigos de Jesus distribuíram dinheiro ao povo para que
escolhessem Barrabás. A compra de votos também é de longa data.
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João
Maria Vianney
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