A Força e o Sentido das Palavras

Recentemente me deparei com uma crítica sobre a força das palavras que utilizo ao abordar certos assuntos no programa. Um crítico ficou com os ouvidos incomodados quando me referi aos condenados e presos na Ação Penal 470, chamada popularmente de “mensalão”, de canalhas.

Embora, não queira polemizar com a referida pessoa, que nem sei quem é, agradeço a ela a manifestação, pois isto me levou a pensar com mais profundidade as coisas e as maneiras do emprego das palavras no Brasil de hoje.

A forma de se usar as palavras e comunicar-se com o público revela também o que não se deseja dizer ou buscar afrouxarem-se os impactos de atos descritos traduzidos em textos.

Se por acaso eu usasse a palavra vil sinônimo de canalha tenho certeza de que não sofreria tal crítica, pois a palavra vil parece ser mais simpática ao ouvido e traduz menos o significado tônico de uma ação de mau de comportamento.

Os eufemismos também são amplamente utilizados numa série de violações dos firmes  conceitos tradicionais quanto à vida, ao matrimônio e à família no Brasil deste últimos 20 anos.

Os ouvidos sensíveis de certas pessoas culpam quem utiliza o tom certo e palavras justas ao classificar atos ordinários e criminosos cometidos por pessoas inescrupulosas ao invés de se associarem ao vernáculo próprio para a qualificação destes meliantes.

Quando me referi aos eufemismos destaco, para exemplificar, a decisão do Supremo Tribunal Federal ao julgar a possibilidade de aborto de anencéfalos classificando o procedimento, que leva à morte da criança, com a expressão atenuante de “antecipação terapêutica do parto”. Parece uma expressão leve, contudo, seu efeito é a morte por ação direta do cometimento do aborto.

As palavras existem para serem usadas e fazer com que aquele que expressa um pensamento seja entendido na sua inteireza e diga exatamente o que é o fato. Não se pode, por exemplo, substituir a palavra ladrão por abafador ou larápio. É ridículo!

As palavras têm que ser usadas no contexto para o entendimento pleno do ato e, no caso, de sua gravidade. Portanto, reitero, em defesa da boa e clara língua portuguesa, que a comunicação deve, refletindo a verdade, usar palavras que traduzam de forma fiel e honesta aquilo que se quer dizer. Chega de diminuirmos o significado de atos obscenos utilizando palavras leves para mostrar uma suposta educação, que só serve para diminuir ou relativizar atos que necessitam de uma profunda reprovação geral.

Concluo dizendo que comunicar deve estar associado à verdade e, portanto, não se trata de uma questão subjetiva ou de visão particular pessoal.


Texto do Programa Opinião Católica do dia 13 de dezembro de 2013.

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