Fraternidade e Vida no Planeta
Fraternidade e Vida no Planeta
Estamos na Quaresma, tempo de penitência e oração, cujo ponto alto é a Semana Santa, como preparação para a celebração da Festa da Páscoa. Na Quaresma, no Brasil, também se faz a Campanha da Fraternidade que, conforme explica a mesma CNBB, é uma campanha quaresmal, que une em si as exigências da conversão, da oração, do jejum e da doação, convocando os cristãos a uma maior participação nos sofrimentos de Cristo, vendo-o na pessoa dos pobres, que merecem nossa ajuda.
A Campanha da Fraternidade vem a ser, pois, um grande instrumento para desenvolver o espírito quaresmal, que é de conversão e renovação interior. Ela pretende renovar a vida da Igreja e transformar a sociedade, a partir de temas específicos, tratados sob a visão cristã, à luz do projeto de Deus.
No Credo do Povo de Deus, Paulo VI exprimiu bem o pensamento da Igreja: “Nós professamos que o Reino de Deus iniciado aqui na Terra, na Igreja de Cristo, não é deste mundo, cuja figura passa, e que seu crescimento próprio não se pode confundir com o progresso da civilização..., mas consiste em conhecer cada vez mais profundamente as insondáveis riquezas de Cristo, em esperar cada vez mais corajosamente os bens eternos, em responder cada vez mais ardentemente ao amor de Deus e em difundir cada vez mais amplamente a graça e a santidade entre os homens. Mas é este mesmo amor que leva a Igreja a preocupar-se constantemente com o bem temporal dos homens,... suas necessidades, alegrias e esperanças, seus sofrimentos e seus esforços...”.
O tema da campanha nesse ano está bem explicado na mensagem enviada à CNBB pelo Santo Padre, o Papa Bento XVI, que transcrevemos a seguir.
“É com viva satisfação que venho unir-me, uma vez mais, a toda Igreja no Brasil que se propõe percorrer o itinerário penitencial da quaresma, em preparação para a Páscoa do Senhor Jesus, no qual se insere a Campanha da Fraternidade cujo tema neste ano é: ‘Fraternidade e vida no Planeta’, pedindo a mudança de mentalidade e atitudes para a salvaguarda da criação”.
“Pensando no lema da referida Campanha, ‘a criação geme em dores de parto’, que faz eco às palavras de São Paulo na sua Carta aos Romanos (8,22), podemos incluir entre os motivos de tais gemidos o dano provocado na criação pelo egoísmo humano. Contudo, é igualmente verdadeiro que a ‘criação espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus’ (Rm 8,19). Assim como o pecado destrói a criação, esta é também restaurada quando se fazem presentes ‘os filhos de Deus’, cuidando do mundo para que Deus seja tudo em todos (cf. 1 Co 15, 28)”.
“O primeiro passo para uma reta relação com o mundo que nos circunda é justamente o reconhecimento, da parte do homem, da sua condição de criatura: o homem não é Deus, mas a Sua imagem; por isso, ele deve procurar tornar-se mais sensível à presença de Deus naquilo que está ao seu redor: em todas as criaturas e, especialmente, na pessoa humana há uma certa epifania de Deus. Quem sabe reconhecer no cosmos os reflexos do rosto invisível do Criador, é levado a ter maior amor pelas criaturas. O homem só será capaz de respeitar as criaturas na medida em que tiver no seu espírito um sentido pleno da vida; caso contrário, será levado a desprezar-se a si mesmo e àquilo que o circunda, a não ter respeito pelo ambiente em que vive, pela criação. Por isso, a primeira ecologia a ser defendida é a ‘ecologia humana’. Ou seja, sem uma clara defesa da vida humana, desde sua concepção até a morte natural; sem uma defesa da família baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher; sem uma verdadeira defesa daqueles que são excluídos e marginalizados pela sociedade, sem esquecer, neste contexto, daqueles que perderam tudo, vítimas de desastres naturais, nunca se poderá falar de uma autêntica defesa do meio-ambiente”.
“O dever de cuidar do meio-ambiente é um imperativo que nasce da consciência de que Deus confia a Sua criação ao homem não para que este exerça sobre ela um domínio arbitrário, mas que a conserve e cuide como um filho cuida da herança de seu pai, e uma grande herança Deus confiou aos brasileiros”.
Dom Fernando Rifan - Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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