Rebaixamento da Maioridade Penal

No Brasil é mais do que comum tentar-se tratar dos efeitos do que das causas. Cuidar dos efeitos tem uma dose de alívio por se enfrentar aparentemente o problema no exato instante de sua forma mais perceptível. Circunscrever a dita solução ao apelo do momento é o costume demagógico diário a que sempre estamos sujeitos.

O caso da violência de menores de idade é o exemplo mais forte de toda esta trama que quer esconder responsabilidades de outros e deslocá-las para as costas exclusivamente dos jovens e dos adolescentes.

Não estou aqui para negar a punição daqueles que cometam infrações e crimes. O Estatuto da Criança e do Adolescente trata bem deste tema. O que de fato as pessoas não sabem é que o chamado ECA nunca foi implementado. O Estatuto prevê privação de liberdade e um conjunto de medidas socioeducativas que, insisto, minimamente sequer foram implantadas.

O Estado brasileiro não pode querer rebaixar o grau de responsabilidade criminal para jovens e adolescentes quando é fácil se constatar a ineficiência e a desatenção da própria estrutura estatal em pelo menos dois campos fundamentais, o da educação pública e o do trabalho.

Um dos maiores violadores da cidadania é o Estado brasileiro.

A crise da violência passa antes por um conjunto de valores que o Estado quis perverter. O Estado não protege mais a família natural, a infância e os jovens. O Estado promove políticas destrutivas quanto a valores permanentes e assiste inerte ao avanço das drogas, da corrupção e ao descalabro educacional fonte insuperável de elevação social.

Que futuro terão os jovens sem uma família sólida, sem uma escola atrativa, decente e sem a certeza pedagógica do bom exemplo de seus pais e das autoridades públicas?

Por que não punir criminalmente estas mesmas autoridades que gastam bilhões em circos inúteis e deixam a infância à própria sorte?

Temos os piores índices nos campos da educação, da saúde, da moradia e da segurança pública. Nosso nível de corrupção político-administrativa é comparável aos dos países ditatoriais da África.

O cinismo aqui no Brasil é a matéria-prima da boa política.

Não tenho dúvidas quanto à necessidade de aplicação efetiva das mediadas correcionais previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, pois as infrações praticadas merecem o castigo adequado. Agora, penalizar o jovem ao nível de resposta ao apelo do instinto de vingança, que hoje vozes diversas querem promover, é colocá-lo mais fortemente nas mãos do crime e das organizações criminosas.

A ida para a cadeia destes jovens significará a perda de pessoas em tão tenra idade para a área do crime quase que irremediavelmente.

Texto do Programa Opinião Católica do dia 12 de junho de 2013.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Carlos Dias Senador 700

Impeachment do Secretário-Geral da CNBB

Crítica ao Trabalho das Organizações Não Governamentais - ONGs